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Crédito, Vitor Serrano/bet aposta presidente News Brasil

Larissa Mozer Blaudt, Lucas Henrique Sandre e Alessandra Corsi são geólogos do IPT

Garoava quando três geólogos 5️⃣ do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) desceram do carro aos pés do morro conhecido como Itaquari, uma ocupação na cidade 5️⃣ de Itapevi, município de 248 mil habitantes na Grande São Paulo.

Para chegar lá em cima, era preciso subir uma ingrime 5️⃣ escadaria de pedra em meio à vegetação e aos canos que despejavam esgoto na terra.

Os moradores, já acostumados, subiam com 5️⃣ rapidez. Mas o piso estava molhado - e um visitante desavisado estava sempre a um passo de um escorregão.

Naquela manhã 5️⃣ no final de novembro, a missão era rotineira para os três técnicos do IPT. Os geólogos do instituto, que tem 5️⃣ no total dez profissionais da área, formam uma espécie de equipe de “caçadores de áreas de risco”.

Todos os anos, eles 5️⃣ visitam ocupações em morros em todo o Estado de São Paulo para encontrar e classificar esses pontos de perigo iminente.

Fim 5️⃣ do Matérias recomendadas

Também produzem relatórios com sugestões de obras públicas e outras ações para diminuir os riscos para a população 5️⃣ socialmente vulnerável desses locais.

"Quem chega pela primeira vez, olha para cima, vê as casas e logo pensa: está tudo em 5️⃣ alto risco. Mas não é bem assim", explica a geóloga Alessandra Corsi, de 52 anos, que trabalha no IPT desde 5️⃣ 2004.

"Com o tempo e a experiência, você consegue identificar que há uma escala, riscos maiores e menores."

No verão, com chuva 5️⃣ forte e tempestades, áreas como o morro Itaquari costumam aparecer no noticiário por conta de tragédias causadas por deslizamentos de 5️⃣ terra ou rochas.

Um levantamento do próprio IPT aponta que 4.210 pessoas morreram desde 1988 no Brasil nos chamados "escorregamentos", que 5️⃣ costumam ser mais mortais do que alagamentos e transbordamentos de rios, segundo os geógrafos.

Crédito, Vitor Serrano/bet aposta presidente News Brasil

Geólogos do IPT 5️⃣ classificam o grau de risco de morros do Estado de São Paulo

Crédito, Vitor Serrano/bet aposta presidente News Brasil

O morro do Itaquari está 5️⃣ crescendo com novas habitações

Podcast traz áudios com reportagens selecionadas.

Episódios

Fim do Podcast

O instituto classifica quatro graus de riscos quando se trata 5️⃣ de pontos com possibilidade de escorregamentos.

R1 e R2 são áreas, ocupadas ou não, onde o perigo é menor e que 5️⃣ devem ser monitoradas. Já o grau R3 apresenta "risco alto". E R4, "muito alto".

Segundo Corsi, o que diferencia "alto" de 5️⃣ "muito alto" são “evidências de movimentação" do solo.

Um estudo do próprio IPT explica que, em R3, há "significativas evidências de 5️⃣ instabilidade" do solo, sendo "perfeitamente possível a ocorrência de eventos destrutivos durante episódios de chuvas intensas e prolongadas".

Já em R4, 5️⃣ "as evidências são expressivas e estão presentes em grande número e/ou magnitude. Mantendo essas condições, é muito provável a ocorrência 5️⃣ de eventos destrutivos".

Corsi explica que a forma de ocupação do solo aumenta os riscos de escorregamentos.

"A gente tem a cultura 5️⃣ de ocupar no plano, porque é melhor ter uma casa em uma área plana. Então, as pessoas cortam a terra 5️⃣ do morro, fazem um aterro na frente e ocupam no plano", diz.

"Com isso, você induz o risco. Às vezes, o 5️⃣ corte tem cinco metros de altura e a casa, dois. O que fica atrás é a terra que pode cair."

Em 5️⃣ seus relatórios, os geólogos do IPT não indicam a remoção imediata de famílias em áreas de perigo iminente - ou 5️⃣ seja, nos graus R3 e R4.

"Apontamos para a Prefeitura quais são as obras e soluções de engenharia necessárias para reduzir 5️⃣ o risco, como alargamentos de ruas, muros de contenção, saneamento básico", diz Corsi.

"Mas a decisão de retirar os moradores cabe 5️⃣ ao prefeito. A remoção de uma família tem um custo social grande: às vezes, vão para áreas distantes, as crianças 5️⃣ precisam mudar de escola, a mãe fica mais longe do trabalho, e se rompem vínculos de anos com o território."

Outra 5️⃣ solução recomendada pelo IPT é "capacitar e engajar os moradores como parceiros, para que eles saibam identificar os riscos e 5️⃣ possam informar a Defesa Civil quando a situação piora, quando começa a chover muito forte na região", explica Corsi.

Crédito, Vitor 5️⃣ Serrano/bet aposta presidente

O morro do Itaquari deve passar por obras de urbanização da Prefeitura de Itapevi

Crédito, Vitor Serrano/bet aposta presidente

O morro do Itaquari foi 5️⃣ ocupado em maior número por volta de 2011

Na parte de cima do morro do Itaquari, Corsi mostrou a “ficha de 5️⃣ campo” que ela e outros dois geólogos - Lucas Henrique Sandre e Larissa Mozer Blaudt - tiveram de preencher para 5️⃣ classificar os pontos da ocupação.

Em um ponto da comunidade, Blaudt identifica um cano que despeja esgoto diretamente na terra.

“Toda essa 5️⃣ água vai para a encosta. Isso é um complicador, porque ela se infiltra e deixa o solo mais úmido”, diz 5️⃣ a geóloga,
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grafando a tubulação.

Os técnicos precisam observar, por exemplo, se no morro há áreas com erosões, fossas, água acumulada, 5️⃣ vazamentos nas tubulações, postes inclinados, entre outros itens. Quanto mais dessas marcas, maiores os riscos de deslizamento.

Corsi explica como identificar 5️⃣ as chamadas “cicatrizes”, que são “rachaduras na terra, escombros de casas, árvores inclinadas, trincas nas moradias, tudo que demonstre evidências 5️⃣ de movimentação da terra.”

De fato, na beira de um barranco do Itaquari existem algumas cicatrizes visíveis: um tronco de árvores 5️⃣ totalmente torto, vegetação morta amontoada embaixo, grandes rachaduras na terra e restos de casas derrubadas.

Segundo moradores, um bebê de três 5️⃣ meses morreu soterrado quando uma parte do morro desabou em cima da casa onde ele estava, há dois anos.

Depois, as 5️⃣ moradias próximas dessa área de risco “muito alto” foram derrubadas pela Prefeitura a pedido da Justiça.

Outra característica observada pelos geólogos 5️⃣ são os chamados “taludes”, uma área inclinada que sustenta o solo - ela pode ser natural ou mesmo construída como 5️⃣ um muro.

Segundo os técnicos, o risco é maior se a moradia está próxima de um talude com perigo de ceder. 5️⃣ A textura da terra também é um indicativo importante, segundo Corsi.

“Se pega a terra na mão e consegue fazer um 5️⃣ rolinho, ela está muito úmida e pode se movimentar. Se ela se esfarela quando você aperta, é porque está seca.”

Crédito, 5️⃣ Vitor Serrano/bet aposta presidente

Rachadura na terra é um das 'cicatrizes' que apontam para risco de deslizamento

O IPT, fundado em 1899, é uma 5️⃣ empresa vinculada ao governo de São Paulo, embora apenas 30% de seu orçamento saia dos cofres públicos - o restante 5️⃣ é arrecadado com a venda de serviços e projetos desenvolvidos embet aposta presidentesede, no campus da Universidade de São Paulo 5️⃣ (USP).

Normalmente, o IPT realiza o trabalho de análise de risco em cidades da região metropolitana e do interior de São 5️⃣ Paulo, porque a prefeitura da capital tem uma equipe própria de geólogos.

Neste ano, o instituto foi contratado pela Prefeitura de 5️⃣ Itapevi para mapear o morro do Itaquari.

Segundo a gestão municipal, a ideia é regularizar a área e, depois, fazer obras 5️⃣ de urbanização e contenção dos riscos.

Itapevi é uma das 39 cidades da Grande São Paulo e faz parte de uma 5️⃣ região conhecida como “mar de morros”, ao norte e oeste da capital.

Parte dos municípios dali passou por um boom habitacional 5️⃣ nas últimas décadas, com milhares de famílias pobres indo viver em áreas de risco.

A população de Itapevi cresceu 356% nas 5️⃣ últimas quatro décadas, chegando a 248 mil habitantes em 2023, segundo a Fundação Seade.

Crédito, Vitor Serrano/bet aposta presidente

Manoela Santana e Caio Leite 5️⃣ chegaram em 2023 e estão construindo um sobrado

Crédito, Vitor Serrano/bet aposta presidente

Prefeitura de Itapevi pretende regularizar área do morro

Uma dessas famílias é 5️⃣ formada pela enfermeira Manoela Santana, de 30 anos, seu companheiro, o vendedor Caio Leite, 34, e dois filhos pequenos.

Sem conseguir 5️⃣ pagar o aluguel, o casal ficou sabendo de um lote vazio no morro do Itaquari, em 2023. Ocupou.

Eles começaram com 5️⃣ um pequeno barraco de madeira que "mal cabia a cama", segundo Manoela.

Hoje, estão construindo o segundo andar de um sobrado 5️⃣ no alto do morro, bem ao lado de uma área de mata ainda preservada. “A gente mora dentro da obra”, 5️⃣ diz Caio.

“Sempre tem o risco e o medo, mas a gente sonha e constrói devagarinho. Vai ter até piscina ali 5️⃣ na frente”, diz Manoela, que se formou na faculdade recentemente e melhorou de renda a ponto de conseguir investir na 5️⃣ casa.

Para os geólogos do IPT, a área onde está o sobrado do casal precisa ser monitorada: é grau R2.

Poucos metros 5️⃣ à frente, uma fileira de novos barracos de madeira ocupam lotes de um ponto desmatado recentemente. As moradias estão bem 5️⃣ perto de outro barranco com cicatrizes. Ali, a situação é pior: risco alto, R3.

Os técnicos do IPT também atuam quando 5️⃣ a área passou do risco a lugar de tragédia.

Quando há soterramentos de casas e pessoas, a equipe de geólogos vai 5️⃣ até o local para analisar a situação e indicar - até para as equipes de resgate - se há perigo 5️⃣ de novos deslizamentos e os pontos que precisam ser isolados.

Foi o que aconteceu em fevereiro deste ano, quando pelo menos 5️⃣ 65 pessoas morreram no litoral norte de São Paulo durante um temporal que foi classificado como o maior já registrado 5️⃣ na história do Brasil.

Em 24 horas daquele 19 de fevereiro, choveu 683 milímetros de água sobre a região de Bertioga 5️⃣ e São Sebastião, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e o Instituto Nacional de 5️⃣ Meteorologia (Inmet).

A geóloga do IPT Larissa Mozer Blaudt, de 26 anos, tem uma história pessoal com tragédias assim.

A casa onde 5️⃣ ela vivia foi soterrada em Petrópolis (RJ), em fevereiro de 2023, quando 241 pessoas morreram em deslizamentos após um volume 5️⃣ de chuva muito acima do normal.

“Tinha acabado de me formar e trabalhava na Defesa Civil do município. Decidi morar na 5️⃣ área de pesquisa, pagando aluguel. Não estava em casa no momento, foi minha sorte", conta Blaudt, que se mudou para 5️⃣ São Paulo neste ano.

"Precisei deixar tudo e trabalhar na tragédia, morando em hotel. Fiquei seis meses trabalhando direto, foi um 5️⃣ aprendizado muito grande, não imaginava que enfrentaria tudo isso no primeiro ano de carreira.”

Tempestades como estas estão sendo chamados por 5️⃣ ambientalistas de “eventos extremos” e são apontados como uma das consequências das mudanças climáticas.

Enquanto descia outra escada do morro, Alessandra 5️⃣ Corsi explicou que as análises de risco no Brasil ainda não consideram esses eventos, mas isso deve mudar em breve.

“Me 5️⃣ perguntam por que já não coloco ‘mudanças climáticas’ no relatório? Se eu fizer isso, vou pintar a cidade toda de 5️⃣ vermelho”, diz.

"Primeiro, as prefeituras precisam resolver os problemas das chuvas normais e, depois, incorporar os eventos extremos, que vão precisar 5️⃣ de outros tipos de obras e recursos."

Neste mês, geólogos do Brasil inteiro vão se reunir no Ministério das Cidades para 5️⃣ discutir possíveis mudanças nas avaliações de risco e também em políticas públicas que possam diminuir as consequências desses eventos.

Crédito, Vitor 5️⃣ Serrano/bet aposta presidente

Lucas e Larissa veem uma missão para os geólogos do IPT: 'salvar vidas'

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Os três geólogos se dizem preocupados 5️⃣ com a ocorrência de 'eventos extremos'

Os geólogos que atuam nos morros, no entanto, já estão preocupados com os próximos meses.

No 5️⃣ verão, os profissionais do IPT trabalham em regime de plantão no Plano Preventivo de Defesa Civil (PPDC), em parceria com 5️⃣ outros órgãos estatais.

Ou seja, em caso de escorregamentos, os geólogos são chamados e precisam se deslocar para qualquer ponto de 5️⃣ São Paulo emergencialmente.

Com 20 anos de IPT, Corsi já passou por vários desses plantões, mas diz que a experiência não 5️⃣ diminuibet aposta presidenteansiedade nessa época do ano.

"Não durmo bem, fico mais tensa. A gente lembra até das áreas visitou no 5️⃣ ano. E, com os últimos eventos, a preocupação aumentou muito”, diz.

Esse será o primeiro plantão de Lucas Henrique Sandre, de 5️⃣ 29 anos, que começou como estagiário do instituto e, hoje, faz parte da equipe de geólogos.

“Nesse período de chuvas, a 5️⃣ gente já fica ansioso esperando a notícia de algum deslizamento com morte”, diz ele, que alimenta o banco de dados 5️⃣ do IPT sobre vítimas de escorregamentos no Brasil.

Para ele, os geólogos que prestam esse serviço cumprem uma missão: “Entendo nosso 5️⃣ papel como parte do processo, não vamos resolver tudo sozinhos, mas, de maneira prática, muitas vezes nós salvamos a vida 5️⃣ das pessoas”.

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