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Por Rodrigo Rodrigues, g1 SP — São Paulo
04/12/2023 05h04 Atualizado 04/12/2023
Em 1992, a então prefeita de 🌝 São Paulo, Luiza Erundina, abastece com gás natural um dos ônibus da antiga Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC). — 
: 🌝 Acervo pessoal
A prometida tarifa zero que pode ser implantada na cidade de São Paulo aos domingos ou no período noturno, 🌝 segundo o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), não é exatamente uma novidade na capital paulista.
Em 1991, durante a gestão da 🌝 prefeita Luiza Erundina (PT), a cidade teve uma experiência regional em Cidade Tiradentes, no extremo da Zona Leste da capital, 🌝 com cinco linhas de ônibus de graça, para a circulação das pessoas dentro do bairro.
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Na época, Erundina e o então secretário de Transportes, Lúcio Gregori, promoveram uma municipalização do transporte público 🌝 em toda a capital, o que possibilitou a ampliação da frota e a criação das linhas gratuitas. Tudo isso graças 🌝 ao aumento do subsídio aplicado na antiga Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC), que foi privatizada por Paulo Maluf e, 🌝 em 1995, virou SPTrans.
As linhas gratuitas eram usadas pelos cerca de 200 mil moradores do bairro até o então recém-inaugurado 🌝 Terminal de Cidade Tiradentes, que ligava a região – distante mais de 60 km do Centro de São Paulo – 🌝 com as demais áreas da cidade.
Ano: 1992 - Ônibus da extinta linha gratuita 3004 - Circular Bancários, implantado pela então 🌝 prefeita Luiza Erundina (PT), em Cidade Tiradentes, na Zona Leste de SP. — 
: Acervo Museu SPTrans
As linhas circulares gratuitas 🌝 continuaram em operação até a gestão do prefeito Celso Pitta (PP), pupilo e sucessor de Paulo Maluf na Prefeitura de 🌝 São Paulo.
Primeiro, Pitta reduziu as cinco linhas para apenas uma em 1998 e, depois, em meados do ano 2000, extinguiu 🌝 o transporte gratuito no bairro, acabando com a única linha circular remanescente gratuita da antiga gestão petista, a 3001/51 - 🌝 Gráficos/Term. Cid. Tiradentes.
Em entrevista ao g1, a ex-prefeita Luiza Erundina – atual deputada federal pelo PSOL - disse que a 🌝 gratuidade em Cidade Tiradentes tinha o objetivo de ser um ensaio para a implantação de um sistema de gratuidade em 🌝 toda a cidade.
“Na época, a gente tinha enviado um projeto de lei para a Câmara propondo a tarifa zero e 🌝 sugerindo que ela fosse implantada na cidade toda por meio da adoção de um IPTU progressivo, em que os ricos 🌝 pagariam mais impostos e os pobres e mais humildes, menos. Parte da arrecadação do IPTU progressivo seria usada para subsidiar 🌝 a passagem gratuita para toda a população. Mas a gente não tinha maioria na Câmara e os vereadores arquivaram a 🌝 proposta sumariamente, sem nem ao menos colocá-la em discussão”, lembrou Erundina.
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Eleito prefeito de São Paulo em 🌝 1992, Maluf conseguiu fazer seu sucessor, o secretário de Finanças, Celso Pitta, que se tornou prefeito da capital em 1998. 🌝 — 
: Estadão Conteúdo
A ideia da ex-prefeita, quase 33 anos atrás, era que a gratuidade para o resto da cidade 🌝 fosse implantada aos poucos, primeiramente aos domingos e à noite, a exemplo do que o atual prefeito tem proposto. Em 🌝 2023, Erundina voltou a defender esse modelo de gratuidade, quando foi novamente candidata à Prefeitura de SP pelo PSOL.
Sem mágoas
Apesar 🌝 de a ideia ter sido lançada durantecomo ganhar na maquininha caça níquelgestão, a ex-prefeita diz que não tem motivo para se chatear com 🌝 o prefeito Ricardo Nunes, por tentar implementar uma ideia antiga dela, em busca de votos na tentativa de reeleição em 🌝 2024.
“É uma ideia que continua muito boa e que não foi criada por mim. Não sou a dona dela. Foi 🌝 gerada por uma equipe muito dedicada, que trabalhou comigo na época e era liderada pelo Lúcio Gregori. Fico feliz que 🌝 aquelas ideias não tenham sido esquecidas 33 anos depois que deixei a prefeitura”, afirmou a primeira prefeita eleita pelo PT 🌝 em uma cidade grande do país.
Para implantar a tarifa zero em toda a cidade, Erundina diz que não havia como 🌝 a prefeitura assumir os custos integrais do sistema, sob risco de colapsar o orçamento da cidade e comprometer outros serviços 🌝 públicos.
Agora deputada federal pelo PSOL, Luiza Erundina segura a 
de quando era prefeita de SP pelo PT, entre 1988 🌝 e 1992. — 
: Rodrigo Rodrigues/g1
Na época, ela conta que São Paulo recebia um fluxo migratório de outras partes do 🌝 Brasil de quase 300 mil pessoas por ano.
“Sem outra fonte de receita nova, seria inviável a gente tirar dinheiro de 🌝 outras pastas para aplicar no transporte público, mesmo a gente entendendo que era um direito do cidadão. Era uma época 🌝 de inflação alta, desemprego forte, carestia, gente chegando o tempo todo. A cidade era carente de tudo. Até dentro do 🌝 PT eu recebi críticas, porque as teses do partido defendiam a estatização do transporte como direito público constitucional. Mas a 🌝 nossa equipe sabia que era preciso agir com responsabilidade”, afirmou.
Prefeitura quer testar tarifa zero nos ônibus em dezembro
O dilema enfrentado 🌝 por Erundina três décadas atrás é o mesmo enfrentado pelo atual prefeito. Embora o orçamento da cidade tenha se multiplicado 🌝 muito em 30 anos - passando de CR$ 1,3 trilhões (cerca de R$ 3,8 bilhões), em 1992, para R$ 110,7 🌝 bilhões em 2024, o custo para bancar a tarifa zero para toda a cidade é perto de R$ 12 bilhões 🌝 por ano, segundo cálculos da própria SPTrans.
Em 2023, a cidade já está gastando mais de R$ 5,3 bilhões para subsidiar 🌝 o sistema, que tem a tarifa congelada em R$ 4,40 há quase três anos.
Mesmo assim, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), 🌝 conseguiu aprovar nesta quarta (29), em primeiro turno, a reserva de pelo menos R$ 500 milhões para ao menos iniciar 🌝 a implantação do sistema aos domingos ou no período noturno em 2024.
O prefeito da cidade de São Paulo, Ricardo Nunes 🌝 (MDB), em reunião do Palácio dos Bandeirantes, em janeiro de 2023. — 
: Divulgação/Secom/GESP
Nova fonte de receita
O ex-secretário de Transportes, 🌝 Lúcio Gregori, considerado até hoje o "pai da tarifa zero", diz que a medida é boa, mas tímida. Ele afirma, 🌝 porém, que só com uma fonte de receita nova é que a cidade conseguirá bancar a proposta de gratuidade para 🌝 toda a cidade.
“Não vejo mal de fazer tarifa zero em lugar nenhum. Mas quando você faz só aos domingos, ela 🌝 não tem um significado amplo quando se faz para a cidade toda, toda semana. É apenas um agrado, vamos dizer 🌝 assim, não uma política pública. Mesmo que São Paulo tenha um orçamento robusto e equilibrado, ela vai precisar de uma 🌝 nova fonte de recursos para bancar a tarifa zero na cidade” , afirmou.
“Isso já está sendo discutido no Congresso Nacional 🌝 pela PEC 25, de autoria da própria Erundina. No projeto é proposto a Contribuição pelo Uso do Sistema Viário [ConUsv], 🌝 onde carros particulares pagariam um valor progressivo conforme o porte do veículo e potência do motor para uso do sistema 🌝 viário das cidade. Em valores de 2023, quando fiz a proposta, isso daria uma renda extra de R$ 6 bilhões 🌝 a mais para a prefeitura por ano, se fosse cobrado um valor por ano de R$ 1 a R$ 3 🌝 por carro da frota”, explica.
O engenheiro Lúcio Gregori, ex-secretário de Transporte da cidade de SP, durante o governo Erundina (1988/1992) 🌝 — /i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/H/w/hBQiljQu6sBhQMCUPfSQ/pgm-campos-neto-08.jpg "como ganhar na maquininha caça níquel")
: Reprodução/TV Brasil
No caso da cidade de São Paulo, como o custo anual do sistema é alto, mesmo uma 🌝 contribuição nova não isentaria a prefeitura de aportar recursos públicos para financiar o sistema, segundo o próprio Gregori.
“É preciso se 🌝 repensar no Brasil a forma de uso do sistema viário das cidades, onde são gastos uma fortuna de manutenção, sinalização, 🌝 e etc, e as pessoas que tem carro não pagam nada por isso", declarou.
"Penso que, o que o prefeito está 🌝 propondo agora, é porque a tarifa zero está na pauta e virou uma discussão no país todo. E ele não 🌝 quer perder o bonde dessa história. Até porque, é pré-candidato à reeleição. Então, vejo mais como uma forma dele aparecer, 🌝 do que o início de um caminho que chegue na tarifa zero para a cidade como um todo, todos os 🌝 dias. Que, na minha visão, é a única maneira dessa proposta fazer sentido. Implantar só aos domingos é apenas 'um 🌝 presentinho pra vocês aí'”, opinou o ex-secretário de Transportes.
Governo estadual descarta tarifa zero no transporte
Atualmente com 89 anos recém completados, 🌝 Erundina é a parlamentar mulher mais velha do Congresso Nacional. Mesmo assim, ela diz que tem uma disposição inquestionável para 🌝 articular a votação nas comissões e no plenário da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 25, na Câmara dos Deputados 🌝 e no Senado, para tentar garantir a viabilidade da tarifa única nos municípios brasileiros.
“Falta só um aninho para os meus 🌝 90 anos. Quem sabe até lá, a gente consiga ver essa PEC 25 aprovada. E instituir um sistema nacional integrado 🌝 e unitário, com participação da sociedade, sem o trabalhador ter que arcar com 20% da renda dacomo ganhar na maquininha caça níquelfamília para 🌝 pagar mesmo um transporte subsidiado. Isso não é justo. É preciso distribuir os ônibus em igualdade de condições para todos 🌝 que constroem a cidade e o país”, afirmou Erundina.
“Espero que até apagar as velinhas de 90 anos os trabalhadores tenham 🌝 assegurado o benefício da mobilidade. Ir e vir quando quiser, que tenham a possibilidade de não ficar trancado em casa 🌝 por não poder ir visitar um parente em outro bairro. Por não poder ir ao cinema porque ele é longe 🌝 dacomo ganhar na maquininha caça níquelcasa e a tarifa é um impeditivo. Por não ir ao parque porque moram distantes, sem serviços públicos 🌝 de lazer. Só vêem a família as vezes no Natal, porque não tem dinheiro pra bancar a locomoção de todos 🌝 os membros da família. Isso não é justo na terceira maior cidade do mundo”, completou.
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