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10/07/2024 15h58 Atualizado 10/07/2024
O que leva alguém a navegar sozinha da França até um fiorde inabitado ☀️ na Groenlândia e ficar presa no mar congelado por oito meses durante o inverno polar? Sem o sol ou qualquer ☀️ contato humano por metade desse período, Tamara Klink, de 27 anos, é a primeira mulher que se tem registro a ☀️ realizar a chamada invernagem em esportesdasorte vip solitário. Filha do lendário navegador Amyr Klink - a primeira pessoa a atravessar o ☀️ oceano Atlântico a remo, em esportesdasorte vip 1984 –, ela foi também a mais jovem brasileira a navegar da França ao ☀️ Brasil em esportesdasorte vip solitário, em esportesdasorte vip 2024, dentre outras aventuras que coleciona no currículo.
“Uma das razões para fazer isso agora ☀️ foi descobrir o que acontece com a gente quando estamos sós. Qual a verdade sobre a solidão, o escuro, o ☀️ medo”, responde a velejadora, em esportesdasorte vip entrevista dada por telefone de seu barco, ancorado em esportesdasorte vip um porto de pesca ☀️ ainda na costa oeste da Groenlândia. “Isso que eu chamaria de verdade: o que acontece quando a gente não pode ☀️ mais disfarçar, fugir, sair de onde estamos. Quando a única fonte de medo e prazer, tristeza e alegria, vem sem ☀️ palavras.”
Após o período de extremo isolamento, Tamara não tem pressa para voltar à casa, na França, ou aos familiares no ☀️ Brasil. Tampouco sabe qual será o próximo destino. Por ora passa o tempo fazendo pequenos ajustes no barco, na companhia ☀️ de um ou outro pescador, com quem troca peixes e algumas palavras. Até o momento da entrevista, duas semanas após ☀️ o fim da invernagem, ainda não havia pisado em esportesdasorte vip terra firme.
“De forma resumida, descobri que as palavras são insuficientes, ☀️ nosso vocabulário é muito pobre. Basta querer descrever um som, um cheiro, sabores, as palavras que temos não bastam. Descobri ☀️ que a solidão pode ser muito feliz. Que os medos mais difíceis de lidar são os dos outros, que tornam ☀️ nossa mochila de medos muito mais pesada do que precisaria ser. Aprendi a confiar e treinar meus instintos. Sobre o ☀️ poder dos sonhos, que são reais, porque enquanto a gente dorme a gente vive o que sonha. A importância dos ☀️ outros para dar sentido ao que fazemos. Sobre a vida ser inútil - ela não tem utilidade nenhuma a não ☀️ ser para ser vivida.”
Foram inúmeros os riscos e perigos ao longo dos oito meses no Ártico. Ela aprendeu a ler ☀️ o comportamento dos ursos e a atirar caso precisasse se defender, - o encontro felizmente não aconteceu -, e a ☀️ costurar a própria pele. Quase morreu quando caiu na água congelante, ao pisar em esportesdasorte vip um gelo que quebrou. “Não ☀️ senti dor, medo, pavor, o instinto de sobrevivência falou mais alto e me deixou muito concentrada em esportesdasorte vip sair, custe ☀️ o que custar”, conta Tamara, que passou por um ano de preparo mental com a psicóloga Nair Pontes para encarar ☀️ a viagem sem enlouquecer ou cair numa depressão. Fez um tratamento que passou por elaboração de traumas e treinamentos de ☀️ respiração, de projeção de futuro e interpretações de sonhos.
“Foi interessante trabalhar os sonhos, porque estava vivendo sem palavras. Escrevia mas ☀️ poucas palavras vinham. Passei muito tempo sem ver outras expressões. Como reconhecer se a gente está feliz sem ver o ☀️ sorriso no rosto de outra pessoa? Como se reconhece a tristeza quando a gente não tem com quem dividi-la? Muitas ☀️ das minhas emoções ou pensamentos apareciam nos sonhos. Eu anotava todos os dias.”
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Tamara teve que lidar com o fenômeno de Renault, uma condição médica vascular de ☀️ hipersensibilidade ao frio. “Paro de ter sangue nas extremidades, sinto muita dor e não consigo usar os dedos. Eu tinha ☀️ isso o tempo todo. Tentava me manter o mais aquecida possível, mas sabia que poderia perder os dedos muito rápido ☀️ se me expusesse demais, não estivesse com as roupas certas ou se ficasse parada”. Nos meses mais frios, a temperatura ☀️ variava de -20 a -40 graus.
Também descobriu que tem urticária nos pés quando expostos ao frio. A coceira a impedia ☀️ de dormir, os dedos inchavam e não conseguia andar de dor. Teve que evitar pisar no chão do barco, onde ☀️ estava mais frio, e desenvolver adaptações como dormir com um saco de água quente e deixar os pés no aquecedor ☀️ quando possível.
Mas nenhum obstáculo se compara à etapa de preparação do barco, diz ela, quando ainda não se viveu a ☀️ experiência, e são pensadas soluções para problemas fatais que podem nem acontecer. Tamara adaptou o veleiro de aço de 10 ☀️ metros de comprimento para percorrer águas frias e aprendeu a montar e desmontar os equipamentos do barco para conseguir consertá-los ☀️ sozinha. Também preparou um estoque de comida suficiente para um ano, como arroz, feijão, macarrão, sementes de girassol, conservas de ☀️ legumes e frutas desidratadas. Por várias vezes teve vontade de desistir de tudo ao longo desses 15 meses antes de ☀️ embarcar. Foi também quando passou por “dificuldades humanas”, em esportesdasorte vip ambientes predominantemente masculinos como são os portos e estaleiros.
“As pessoas ☀️ me diziam que eu ia morrer, que ia faltar braço, que mulher é fraca demais, que não ia conseguir me ☀️ salvar se tivesse algum problema técnico, que um homem poderia quebrar o gelo com o barco e vir me estuprar, ☀️ que eu não saberia atirar em esportesdasorte vip urso para me defender, que se tivesse problema médico, seria mais frágil e ☀️ poderia morrer mais cedo. Naveguei 2.500 milhas com esse barco e 8 mil milhas com outro muito mais precário, e ☀️ ainda me veem como iniciante e incapaz. Olham para minha cara e pensam: uma menina frágil, vulnerável”, conta.
“Rica entediada”
“Rica entediada”, ☀️ “nepo baby”, “afinal, qual o objetivo disso?” são alguns dos comentários que invariavelmente surgem nas redes para criticar Tamara e ☀️ suas expedições.
“Não é uma viagem de férias. Adoraria que fosse, mas é um projeto profissional, como qualquer outro”, diz a ☀️ navegadora. “Perguntam qual a utilidade disso e por que correr risco de vida, mas é o mesmo que voar de ☀️ avião ou dirigir um caminhão - também é arriscado. Meu lazer é tomar café, correr no parque, encontrar amigos. A ☀️ navegação é minha profissão hoje. A maneira como realizo esse sonho de navegação é minha profissão. Por acaso meu pai ☀️ também tem minha profissão, mas ele não financia minha profissão. Se financiasse, não seria minha profissão, seria outra coisa.” A ☀️ viagem foi patrocinada por Magalu e NTT DATA BRASIL, empresa de tecnologia. Tamara é irmã de Laura, designer, e Marina ☀️ Helena, estudante de medicina. A mãe, Marina, é fotógrafa e palestrante.
Para ela, autora de quatro livros sobre suas expedições, os ☀️ ataques também estão relacionados ao fato de ser mulher.
“Historicamente as mulheres foram vistas como incompletas e vulneráveis. A transformação dos ☀️ imaginários incomoda. Todas sabemos o que é passar por desencorajamento e invalidação sistemáticos, independentemente da nossa origem. Na internet podemos ☀️ até ignorar as críticas, mas na vida real elas nos atrasam e nos fazem perder muita energia que poderíamos usar ☀️ para coisas mais úteis.”
E como é retornar à cidade e ao contato humano após uma experiência de meses de isolamento ☀️ radical? Tamara diz que tudo “parece rápido e abstrato”, “fala-se muito mais do que se faz”, ao contrário do que ☀️ estava vivendo até então. “O tempo abstrato da cidade, do relógio, é um tempo que não existe, ele é combinado. ☀️ É uma fantasia. O tempo dos elementos é cíclico, elástico, pode voltar atrás. Num dia de neve, um rio pode ☀️ voltar a congelar, e com a chuva, derreter de novo”, reflete.
“Minha relação com essas ferramentas que medem o tempo é ☀️ como descobrir que o Papai Noel não existe. Passei tanto tempo contando minha vida em esportesdasorte vip anos, quando isso não ☀️ significa muita coisa. A sensação durante o inverno é que não estava apenas fora do tempo, mas ganhando tempo de ☀️ vida. Porque tudo que vivi até então me levou para lá. E quando estava na cidade, sempre faltava algo. Sempre ☀️ estava em esportesdasorte vip busca de algo que eu não tinha: uma posição, uma ideia de sucesso, um diploma, distintivos, recursos, ☀️ objetos. No inverno, no gelo, tinha tudo que poderia querer ter e estava satisfeita. Tinha livros, o meu banheiro era ☀️ um balde. Tinha a sensação de que a vida já tinha valido a pena por estar vivendo. Estar viva, ser ☀️ completa. Principalmente para as mulheres, é quase impossível sentir isso. Estamos sempre podadas, sob tutela de alguém, pedindo autorização, porque ☀️ parte de ser mulher é ser aceita, passa por agradar, estar nos conformes, sorrir quando é hora de ser simpática ☀️ mesmo quando a gente não quer. Vestir roupas que incomodam mas que são mais apresentáveis. Muitas vezes, o que define ☀️ uma roupa ser feminina ou masculina é a restrição do movimento. A gente se acostuma a usar roupas que machucam ☀️ porque achamos que vão nos ajudar a dar uma boa impressão, agradar alguém, melhorar nossa imagem”.
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Durante os oito meses no gelo, Tamara não viu ☀️ ninguém por quatro meses e durante o resto do tempo encontrou um caçador ou outro. Para ela, que adorou a ☀️ experiência, não foi tanto tempo assim. “Descobri o que é ser humana antes de ser mulher. Passar semanas, meses, sem ☀️ ver o reflexo do rosto, sem ter o rosto visto por alguém. Perceber quanto tempo gastei para fazer coisas que ☀️ outras pessoas disseram que deveria fazer, seguir costumes e agradar os outros e não a mim mesma. Enquanto andava no ☀️ gelo, toda minha energia era destinada a minha sobrevivência e prazer. Pensava na direção dos ventos, na espessura do gelo, ☀️ se as roupas estavam confortáveis, permitiam transpirar o suficiente, se estava com equipamentos em esportesdasorte vip bom estado.”
O ato de ligar ☀️ a câmera
gráfica mudava essa sensação, diz Tamara, e então vinham os “pensamentos parasitas”: “Estou ficando com monocelha, tem pelo ☀️ em esportesdasorte vip cima da boca, meu cabelo está oleoso, meu nariz está escorrendo, minha roupa está suja. Pensamentos que me ☀️ consumiam energia e não me serviam em esportesdasorte vip nada ao prazer ou à sobrevivência. São eles que aprendemos na sociedade ☀️ o tempo todo”.
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No ambiente ☀️ selvagem, cada dia é diferente do outro. Se nevasse, Tamara saía para buscar neve e derretê-la para fazer água. Quando ☀️ estava mais quente, soltava um tanto da corrente da âncora do barco. Passeava todos os dias para ver os animais, ☀️ como raposas, focas, lebres e ptarmigans, conhecer o lugar e descobrir novos caminhos. Divertia-se escorrendo nas paredes de gelo. Observando ☀️ a paisagem, aprendeu a evitar avalanches. Também leu livros como Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa, obras de Hermann Hesse, ☀️ Annie Ernaux e Cabeça de Santo, de Socorro Acioli.
Quando o sol voltou após meses na escuridão, a primeira coisa que ☀️ a marcou foi uma mancha preta embaixo dos seus passos, desenhandoesportesdasorte vipsilhueta no chão. Havia esquecido como é ter ☀️ uma sombra.
“Uma coisa que ficou mais presente nessa viagem é ter menos medo de perder. Podemos perder o tempo todo, ☀️ quem a gente ama, os vínculos, a vida. Faz parte. E talvez desfrutar mais do que ainda temos. Parece que ☀️ na cidade estamos sempre pensando no que falta e não no que temos. O que importa é o que ainda ☀️ está por vir, o que ainda não chegou, os potenciais.
E se por acaso minha vida acabasse de repente, por um ☀️ motivo qualquer, estaria feliz com o que vivi. Nenhum arrependimento, nenhuma falta. Sou uma pessoa muito privilegiada por muitos motivos, ☀️ e um dos maiores é poder construir e realizar um sonho. Muitas pessoas no Brasil não podem nem sonhar porque ☀️ a simples sobrevivência já é dura demais.”
Não é novidade para ninguém que Marina Sena arrasa nos palcos, mas a cantora ☀️ também sabe fazer bonito com seu lado fashionista apostando looks sensuais que revisitam diversos elementos dos anos 2000
Nas redes sociais, ☀️ casal apareceu agarradinho em esportesdasorte vip
s, mas foi a peça usada pela influenciadora que chamou a atenção
A estudante de enfermagem ☀️ Eletícia Steques, de 35 anos, entrou na menopausa depois de receber diagnóstico de endometriose e passar por uma cirurgia para ☀️ remover os ovários. Sem os hormônios femininos, ela começou a sentir uma série de sintomas. Steques testou alguns tratamentos até ☀️ recuperar a qualidade de vida
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