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Por Mateus Rodrigues, Pedro Henrique Gomes, Kellen Barreto, slot esqueleto explosivo 2 e TV Globo — Brasília
02/06/2024 07h01 Atualizado 6️⃣ 02/06/2024
País na África Ocidental, com litoral no Oceano Atlântico e pouco mais de 13 milhões de habitantes, o Benin passou 6️⃣ a discutir nos últimos meses uma ideia inovadora: conceder nacionalidade a todos os afrodescendentes do planeta.
O projeto, enviado pelo governo 6️⃣ e ainda em slot esqueleto explosivo 2 análise no parlamento beninense, foi citado pelo presidente Patrice Talon na visita oficial ao Brasil, na 6️⃣ última semana, em slot esqueleto explosivo 2 discurso ao lado do presidente Lula.
"Na nossa visão, eu vou repetir, todos os brasileiros afrodescendentes são 6️⃣ beninenses. E isso deveria ser para eles motivo de orgulho. E por esse motivo, será votada nos próximos dias uma 6️⃣ lei para conceder a todos os afrodescendentes que assim o desejam a nacionalidade beninense. Portanto, de agora em slot esqueleto explosivo 2 diante, 6️⃣ senhor presidente, o senhor será beninense também", afirmou Talon, sob aplausos dos presentes.
Se aprovado, o texto abrangeria o planeta, mas 6️⃣ teria especial relevância para o Brasil – principal destino do tráfico de negros escravizados e que, hoje, abriga a maior 6️⃣ população preta e parda fora da África.
Entenda abaixo como funcionaria essa lei e quais seriam os impactos para o Brasil, 6️⃣ para a África e para os negros em slot esqueleto explosivo 2 todo o mundo.
Presidente Lula e presidente do Benin, Patrice Talon, durante 6️⃣ encontro em slot esqueleto explosivo 2 Brasília — 
: Ricardo Stuckert/Presidência da República
Neste texto, você verá:
O que diz o projeto de BeninQuem poderá 6️⃣ pedir a nacionalidade, se o projeto for aprovadoO que está por trás da concepção de que todos afrodescendentes são beninensesPor 6️⃣ que Benin iniciou o processoQuais vantagens Benin pode obterComo fica o restante da África nesse processo
O que diz o projeto 6️⃣ de lei?
O texto a que o slot esqueleto explosivo 2 teve acesso indica que, se o projeto virar lei, o Benin dará nacionalidade 6️⃣ a todos os afrodescendentes que façam o pedido e "comprovem"slot esqueleto explosivo 2afrodescendência.
Segundo o governo, essa nacionalidade será de uma modalidade 6️⃣ "limitada" prevista nas leis do país. Os novos cidadãos terão passaporte beninense, mas não poderão participar das eleições (como eleitores 6️⃣ ou candidatos), por exemplo.
Para obter a cidadania "plena", os afrodescendentes beneficiados teriam que percorrer o mesmo caminho usado por quem, 6️⃣ hoje, se muda para o país ou se casa com alguém de lá: entre os quesitos, é preciso morar no 6️⃣ Benin por pelo menos cinco anos.
Presidente do Benin visitou o Maranhão durante fim de semana para encontro com governador
Quem poderá 6️⃣ pedir a nacionalidade?
O projeto em slot esqueleto explosivo 2 discussão no Benin define como afrodescendente "toda pessoa que, em slot esqueleto explosivo 2slot esqueleto explosivo 2genealogia, tem 6️⃣ um ascendente africano subsaariano deportado para fora do continente no contexto do tráfico negreiro".
O texto também diz que "a prova 6️⃣ de afrodescendência é fornecida pelo demandante por meio de qualquer estado civil ou documentação oficial, de testemunhos que constem em 6️⃣ slot esqueleto explosivo 2 escritura autêntica, de um teste de DNA realizado por órgãos chancelados pelo Benin ou por qualquer outro meio técnico 6️⃣ ou científico".
O porta-voz do governo do Benin, Wilfrid Houngbédji, afirmou ao slot esqueleto explosivo 2 nesta quinta (30) que a comprovação é necessária 6️⃣ para todos os afrodescendentes – mesmo os que tenham pele preta e/ou traços físicos que evidenciem esse vínculo.
"O teste de 6️⃣ DNA será para todos os afrodescendentes, todas as pessoas de pele negra de territórios ou países que receberam escravizados. A 6️⃣ simples cor da pele não basta – senão, os cidadãos da própria África, que nasceram e vivem aqui, poderiam dizer 6️⃣ que estão aptos a receber a nacionalidade", disse.
Ainda segundo Houngbédji, não é preciso comprovar uma ligação específica com o Benin, 6️⃣ mas sim com a África subsaariana (onde predominam, historicamente, as populações negras que foram escravizadas).
"Se você é afrodescendente e seus 6️⃣ ancestrais partiram do Mali, da África Central, de Gana, da Nigéria, você poderá pedir o reconhecimento da nacionalidade beninense".
Como assim, 6️⃣ 'todos os afrodescendentes são beninenses'?
A fala do presidente do Benin, Patrice Talon, é resultado de um pensamento social chamado de 6️⃣ "panafricanismo" – ideologia que prega a união do continente africano para vencer o subdesenvolvimento imposto à região pelo passado colonial.
O 6️⃣ panafricanismo tenta superar, por exemplo, as linhas artificiais que separaram as colônias europeias (hoje, países independentes) na África e geraram 6️⃣ conflitos étnicos que se estendem por séculos.
Durante a escravidão, negros de diferentes grupos sociais eram capturados e enviados nos mesmos 6️⃣ navios à América. Nesse processo, a maior parte deslot esqueleto explosivo 2identidade apagada ou suprimida. Nesse processo, desapareceram sobrenomes, idiomas, religiões 6️⃣ e outros vínculos culturais.
Por isso, se hoje um descendente de italianos no Brasil pode usar seu sobrenome eslot esqueleto explosivo 2árvore 6️⃣ genealógica para pedir cidadania europeia, o mesmo não acontece com os netos e bisnetos de escravizados.
É difícil saber se esse 6️⃣ antepassado foi escravizado e enviado ao Brasil saindo de Angola, do Congo, da Guiné ou do Benin (na época, Daomé), 6️⃣ por exemplo.
Atualmente, parte desses descendentes tenta descobrirslot esqueleto explosivo 2origem geográfica por documentos e testes genéticos – e o pensamento panafricanista, 6️⃣ porslot esqueleto explosivo 2vez, defende "superar" essa questão.
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Por que o Benin iniciou o processo?
No cargo 6️⃣ desde 2024, o presidente Patrice Talon é uma forte liderança panafricanista no continente. O governo, inclusive, usa esse termo em 6️⃣ slot esqueleto explosivo 2 discursos oficiais.
"O projeto de lei submetido ao parlamento nacional vem mais uma vez reforçar a política panafricanista defendida pelo 6️⃣ governo desde 2024, através da abolição dos vistos para todos os cidadãos africanos, e traduz uma forte vontade de integração 6️⃣ africana", diz mensagem do Conselho de Ministros do Benin do início de maio.
Na conversa com o slot esqueleto explosivo 2, o porta-voz beninense 6️⃣ reafirmou que o panafricanismo é uma postura de governo e a base ideológica da proposta.
Houngbédji citou outro exemplo: desde agosto 6️⃣ de 2024 – quatro meses após Talon assumir a presidência –, o Benin não exige mais visto de turistas de 6️⃣ nenhum país da África.
O que o Benin tem a ganhar?
Questionado pelo slot esqueleto explosivo 2, Wilfrid Houngbédji afirmou que a proposta enviada ao 6️⃣ parlamento do Benin tem uma justificativa "moral, e não material."
"O benefício para o Benin e a África não é material, 6️⃣ a priori, mas moral. De reparar as coisas, porque nossos ancestrais sofreram com a deportação, a 'coisificação', a escravização. Trata-se 6️⃣ de fazer essa reparação [...] Mas sem dúvida, quando essas pessoas que forem beneficiadas pela reparação optarem por visitar o 6️⃣ Benin, passar uma temporada aqui, isso será vantajoso para o país e para a África", disse.
Ao citar o mesmo projeto 6️⃣ no discurso ao lado de Lula, o presidente Patrice Talon também afirmou que o Benin espera fortalecer a cooperação comercial 6️⃣ com as Américas, por exemplo, e atrair acadêmicos e investidores.
"A África está mudando e o Benin é exemplo disso. É 6️⃣ esse novo Benin que está se abrindo hoje a uma nova cooperação com o Brasil e convidando investidores brasileiros a 6️⃣ conhecer o Benin. Convidando todos os brasileiros a descobrir uma parte de suas origens nas terras africanas do Benin", disse 6️⃣ Talon no discurso ao lado de Lula, em slot esqueleto explosivo 2 Brasília.
"Um povo que, sem esquecer o passado doloroso que o une 6️⃣ à América pela escravidão, virou a página dos rancores e hoje considera que a América, em slot esqueleto explosivo 2 especial o Brasil, 6️⃣ devido à diversidade de suas origens, é uma riqueza. Em outros termos, é para o Benin também uma riqueza o 6️⃣ grande número de afrodescendentes brasileiros", prosseguiu.
"Eu sei o quanto os afrodescendentes procuram esse reconhecimento. O quanto ele é reparador e 6️⃣ permite vincular definitivamente a diáspora africana à terra mãe."
E como fica o restante da África?
O slot esqueleto explosivo 2 perguntou ao governo do 6️⃣ Benin se não havia risco de os países vizinhos, de onde também partiram navios com escravizados, se oporem à medida 6️⃣ – ou, pelo contrário, seguirem o exemplo e passarem a "disputar" a cidadania e o dinheiro dos afrodescendentes mundo afora.
Porta-voz 6️⃣ da presidência, Wilfrid Houngbédji negou as duas possibilidades.
"Não acredito que haverá concorrência. Se inspirarmos outros [países], vai ser ótimo e 6️⃣ pode melhorar a recepção da ideia entre os afrodescendentes. Muitos terão feito seus testes de DNA e saberão com precisão, 6️⃣ a qual parte do continente estão ligados por seus ancestrais. E se esses países os reconhecerem como vítimas desse comércio 6️⃣ odioso, se fizerem o mesmo que o Benin, poderão restabelecer esses vínculos. Não seria concorrência, muito pelo contrário", disse.
O que 6️⃣ dizem os estudiosos e ativistas
Ouvido pelo slot esqueleto explosivo 2, o professor Nelson Inocêncio, membro do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade de 6️⃣ Brasília (UnB), afirmou que embora nem todos os negros do Brasil tivessem "seus antepassados sequestrados" do Beni, o projeto beninense 6️⃣ tem uma importante dimensão política e simbólica, "um ato político da maior relevância".
"Sempre vemos as pessoas que são descendentes de 6️⃣ italianos, alemães, espanhóis, portugueses, e de outros países da Europa reivindicando a dupla cidadania. Então, por que não, estender isso 6️⃣ para a população negra. Mesmo que a origem não seja o Benin, o Brasil explorou muito a Costa Ocidental da 6️⃣ África. A ancestralidade de muitos brasileiros é oriunda de sociedades que estavam por ali", afirmou.
Inocêncio também lembra que no Benin 6️⃣ existe uma comunidade de brasileiros. Segundo o especialista, ao fim da escravidão, muitas pessoas tentaram fazer o caminho de volta 6️⃣ para o continente africano.
Entretanto, o professor alerta que a comprovação como está descrita no projeto de lei beninense, não dialoga 6️⃣ com a história da escravidão no Brasil. Ele esclarece que existem muitas lacunas, inclusive com documentos incinerados, para que não 6️⃣ houvesse comprovação da dívida histórica dos países colonizadores.
O pesquisador da UnB se refere ao momento em slot esqueleto explosivo 2 que após a 6️⃣ assinatura da Lei Áurea, que extinguiu a escravidão no Brasil, o então ministro da Fazenda, Ruy Barbosa, assinou um despacho 6️⃣ ordenando a queima dos registros sobre a compra e venda de pessoas escravizadas e de todos os documentos da escravidão.
"Mesmo 6️⃣ que o DNA não aponte para um pertencimento, a questão não é essa, mas é sobre como as pessoas negras 6️⃣ estão construindo as suas identidades, ainda mais dentro um contexto de racismo, como existe no Brasil."
O professor também explica que 6️⃣ o panafricanismo, para além da união dos países africanos é também uma concepção de proximidade dos negros vítimas do deslocamento 6️⃣ forçado nas Américas, "uma ideologia que visa também um caminho de conexão entre os dois lados do Atlântico."
"Existe um interesse 6️⃣ do continente africano no Brasil, mas a recíproca precisa ser verdadeira. Não estou falando de estado, mas de sociedade brasileira. 6️⃣ Ainda somos muito colonizados pelo viés do olhar europeu. Não falo apenas de balança comercial e acordo de cooperação, falo 6️⃣ de conhecimento, troca de saberes, relações culturais", disse.
"Se somos um país de maioria negra, mas não conseguimos pensar e conhecer 6️⃣ o continente africano, está errado. Não é mais possível que a gente fique apenas com a memória da escravidão, sem 6️⃣ olhar para a África contemporânea. O Benin é um país que tem muito a ver conosco culturalmente. O mundo mudou. 6️⃣ Não é mais o mundo hegemônico", prosseguiu Inocêncio.
Questionado sobre uma possível "fuga de cérebros" e migração de pessoas pretas bem 6️⃣ estabelecidas no Brasil, o professor afirmou que outras nações africanas podem fazer o mesmo movimento e precisamos entender o benefício 6️⃣ da proximidade. Para o estudioso de Afro-Brasilidade, não existe contexto de saída em slot esqueleto explosivo 2 num país com políticas públicas e 6️⃣ principalmente políticas educacionais, bem fundamentadas que garanta a permanência.
"Não se trata disso, se trata de reconhecimento da população negra. É 6️⃣ entender o que a África tem a ver conosco, quanto os países africanos são relevantes para explicação de quem nós. 6️⃣ A África explica o que é o Brasil."
O Movimento Negro Unificado, assim como professor da UnB, defende que a comprovação 6️⃣ através de teste de DNA ou documental não é a melhor metodologia para o Brasil. A coordenadora do movimento, Simone 6️⃣ Nascimento, diz que a população escravizada viveu um processo de colonialismo e genocídio, que inclui a apagamento da memória e 6️⃣ de documentos.
"Benin foi um local de grande fluxo da escravidão, e genocídio da colonização não permite reunir documentos de comprovação 6️⃣ de onde vieram cada um dos ancestrais do povo negro. Nesse sentido, todos os povos negros viveram o mesmo processo. 6️⃣ Para além da construção de um campo simbólico de ter uma pátria ancestral, é necessário erguer um mundo inteiro que 6️⃣ seja antirracista, que ajude na superação das desigualdades causadas pela colonização", afirmou a coordenadora.
Ministério da Igualdade Racial
Procurado pelo slot esqueleto explosivo 2, o 6️⃣ Ministério da Igualdade Racial afirmo que "ações que visem ampliar as conexões entre os países do Continente Africano com os 6️⃣ da Diáspora Africana podem contribuir para trazer benefícios mútuos por meio do compartimento de políticas públicas, de conhecimentos e de 6️⃣ boas práticas, bem como para o desenvolvimento de ações em slot esqueleto explosivo 2 conjunto".
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