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"Eu caio e escuto um 'crec'. Grito de dor. Sinto o meu pé totalmente formigar. Ferrou. Ligamento. Acabou a temporada. 🧾 Fodeu. Fiquei uns dez minutos no chão, chorando."

Faltava um mês para os Jogos Pan-Americanos quando Marcelo Demoliner torceu o tornozelo 🧾 no ATP 250 de Chengdu, na China, e precisou ser retirado da quadra em uma cadeira de rodas. O resto 🧾 da história todo mundo sabe. O gaúcho de 34 anos conseguiu se recuperar, foi a Santiago e conquistou duas medalhas 🧾 nos Jogos Pan-Americanos. Um ouro ao lado de Gustavo Heide e uma prata com Luisa Stefani.

O que quase ninguém sabe 🧾 é que o tornozelo foi o menor dos problemas de Demo nos últimos anos. Em 2023, uma séria lesão no 🧾 joelho direito exigiu uma cirurgia. O médico realizou um procedimento complexo e só revelou ao tenista tudo que havia feito 🧾 meses depois. A recuperação se arrastou por muito mais tempo do que o esperado. Sem a certeza de que voltaria 🧾 a jogar, o atleta viveu dias duros. Deixou de contar com o dinheiro de premiação de torneios. Precisou de remédios 🧾 para dormir.

Reinaldo Azevedo

Em 2023, governo tem nota 8; Lula é nota 11

PVC

Vem aí a segunda revolução do futebol

Juca Kfouri

Disputa na 🧾 CBF já fez a primeira vítima

Tales Faria

O recado que o centrão mandou a Lula

É essa história - longa, dura e 🧾 vitoriosa - que Demo compartilhou comigo em um bem-humorado papo no mês passado. Uma história com um capítulo memorável escrito 🧾 em tinta dourada, para ser contada e recontada a tenistas, pais de tenistas, filhos, netos e bisnetos. Para sempre.

Você ficou 🧾 sem jogar de outubro de 2023 até junho de 2023. Foi quase um ano inteiro. Você consegue lembrar o primeiro 🧾 momento em que sentiu um incômodo no joelho direito?

Foi em Miami, em março. Eu lembro que já era jogado no 🧾 estádio novo, e era bem depois do covid, que não tinha muita gente assistindo. A gente tinha uma área muito 🧾 grande de aquecimento. Eles fizeram campo de futebol, um monte de coisa para a gente se entreter e aquecer e 🧾 tal. E nesses dias, os jogadores faziam umas peladinhas de bola, a gente lançava umas bolas de futebol americano, eu 🧾 chutava muito lançamento de futebol, e teve um dia que eu chutei muito a bola, e comecei a sentir um 🧾 incômodo no joelho que eu nunca tinha tido. E depois dali, cara, inflamou, inchou, e eu fiquei toda a temporada 🧾 capengando, sabe? Eu fiz exames e tal e a coisa não era feia, não era muito grande. Era de fácil 🧾 reparo, era uma cirurgia muito simples. Conversei com os médicos todos, e disseram "a gente vai ali, limpa a área 🧾 da articulação que tem alguns fragmentos, e tem um cisto dentro desse joelho, que é um cisto duro, calcificado, com 🧾 2cm por 2cm." Era algo que cresceu muito e começou a raspar em algumas... extremidades? Não sei como é que 🧾 se diz. Mas começou a inflamar e a inchar o eu joelho. E como eu tive esse episódio de chutar 🧾 muito bola de futebol, inflamou, e eu não consegui parar durante o ano para tratar. O joelho ficou ruim o 🧾 ano inteiro.

Ainda assim você jogou bem aquele ano, né? Você foi campeão em Stuttgart...

É, mas sempre jogava com bandagem, joelho 🧾 enfaixado, sempre cuidando dele para os jogos. E eu não conseguia treinar muito porque ele inchava. Então meu foco era 🧾 sempre para os jogos. Eu não fiz uma preparação tão boa. Eu joguei bem a temporada, mas não era como 🧾 eu queria. Feito isso, no final do ano, acabei um pouco antes. Lembro que fiz a cirurgia no dia 2 🧾 de novembro de 2023. Exatamente. Completa hoje dois anos. E fiz a cirurgia com a expectativa do médico, de que 🧾 em 30-40 dias eu estaria de volta aos treinos, conseguiria fazer a pré-temporada e jogaria na Austrália tranquilamente.

Eu lembro que 🧾 a gente teve essa conversa. A expectativa era operar em novembro para voltar na Austrália.

Exatamente. Porque a cirurgia era muito 🧾 simples. Passaram os 40 dias, falei para o médico que ia começar de leve a treinar, fazer o reforço muscular 🧾 porque depois de uma cirurgia tu perde bastante a musculatura da perna. Daí eu comecei e doía de uma maneira 🧾 que não doía antes. Mas doía muito. Cara... na minha cabeça... "Bom, deve ser normal, a musculatura ainda está fraca." 🧾 Passaram 60 dias. Muita dor. Setenta, oitenta dias... Depois dos 70 dias, eu comecei a pressionar um pouco o médico. 🧾 Por que estava doendo tanto aquilo? O que realmente ele tinha feito? E com essa pressão ele me contou realmente 🧾 o que ele tinha feito a mais. Ele não tinha me contado. E depois que ele me contou, eu falei 🧾 com alguns outros médicos, e os caras falaram "Cara, isso que ele fez... No mínimo... Tu tinha que ter ficado 🧾 parado no mínimo três a quatro meses. Três a quatro meses para voltar." E fazia 70 dias!

Você está me contando 🧾 um detalhe agora que eu não sabia. Quando a gente bateu aquele papo aqui em São Paulo, você me contou 🧾 isso do médico, que ele tinha feito algo que não era o que estava previsto...

Acordado.

Mas você não tinha falado que 🧾 ele não te contou isso logo depois da operação. E você só foi descobrir isso meses depois. Agora eu tô 🧾 mais chocado ainda!

Isso foi com 60-65 dias. Ali, eu continuava com muita dor, e eu tinha trazido o meu fisioterapeuta 🧾 da Espanha. Duas semanas no Brasil para a gente fazer um intensivo na pré-temporada, e eu não conseguia treinar. Gastei 🧾 dinheiro por nada com ele! Porque não fazia sentido, depois que a gente descobriu, ter chamado ele. Eu não podia 🧾 estar treinando. O joelho não estava pronto. Só que depois que eu realmente entendi que ia ter que ficar de 🧾 três a quatro meses sem fazer nada... Mentalmente falando, foi muito difícil. Porque eu ia perder todo o início do 🧾 ano, ia perder ranking, ia perder coisa pra caramba. Eu já estava com parceiros engatilhados. Mentalmente, eu fiquei mal por 🧾 semanas. Foi muito difícil. Dificuldade para dormir... Com incertezas... Não tenho boas lembranças desse momento. Agora, lembrando disso, me fortificou 🧾 muito, obviamente, mas no momento, não foi legal, não. A saúda mental estava lá embaixo. O apoio da minha família 🧾 e da minha esposa foi fundamental. Tive que tomar... Sei lá os nomes dos remédios para conseguir dormir. Porque cara, 🧾 foi muito... Foi muito... Impactante. Porque eu não estava esperando. O cara [o cirurgião], lá dentro, viu um negócio que 🧾 tinha que fazer, fez por conta própria e...

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Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do betnacional nao abre sobre os 🧾 principais assuntos do noticiário.

A post shared by Marcelo Demoliner (@mdemoliner)

Você lembra exatamente o procedimento que ele fez?

Ele fez microperfurações na 🧾 minha cartilagem. Por quê? Porque quando ele entrou no meu joelho, ele viu que tinha um desgaste a mais. Todo 🧾 atleta tem a cartilagem danificada, e ele quis fazer microperfurações... Essa é uma técnica antiga, acredito que não se use 🧾 mais. Porque faz com que gere sangue. A cartilagem não tem circulação de sangue. É muito escasso o sangue para 🧾 fazer com que recupere a cartilagem, então ele faz microperfurações para gerar uma microcartilagem diferente da normal, mas que ajudaria 🧾 a tirar um pouco do dano. Só que isso não me ajudou em momento nenhum, e eu tive que fazer 🧾 um outro procedimento em São Paulo - eu fui, achei um médico oncologista...

Nossa!

É! Achei um oncologista porque eles fazem muito 🧾 pessoas que têm câncer terminal. Eles desligam os nervos das pessoas que têm muita dor. Então eles desligaram os nervos 🧾 da minha perna para eu não sentir dor no meu joelho. Porque eu tina muita dor. Queimaram os nervos. Injetaram 🧾 fenol, uma substância para queimar o nervo e desligar - como é que se chama? Foi exatamente o que o 🧾 Nadal fez em Roland Garros. Ele queimou os nervos do pé. Foi exatamente o mesmo procedimento. Queimaram meus nervos para 🧾 eu não ter sensibilidade no meu joelho para eu conseguir voltar a treinar porque minha perna estava desse tamanho! Eu 🧾 fiquei três meses sem fazer nada. Precisava que eu começasse a treinar para a musculatura começasse a crescer de novo 🧾 para eu voltar a jogar tênis.

Só que você não conseguia trabalhar a musculatura por causa da dor...

Exatamente! Pela cirurgia que 🧾 foi feita. E foi uma opção muito boa e muito bem feita, que me ajudou a voltar a fazer academia, 🧾 crescer a perna, para voltar a ter força e conseguir jogar tênis de novo. Mas ali eu consegui voltar a 🧾 treinar, se não me engano, em maio [de 2023]. E ainda tinha a insegurança toda. No início de Wimbledon [fim 🧾 de junho] que eu voltei a ter segurança no meu joelho. Demorou muito. Então foi um impacto muito grande, mas 🧾 depois que eu consegui voltar a ser uma pessoa positiva, a entender o processo, a entender que não tinha como 🧾 voltar atrás e... Cara, eu treinei como nunca tinha feito antes. Primeiro porque estava mais velho e precisava treinar mais. 🧾 Um jogador de 20-22 anos recupera mais fácil. Então foi um período que eu nunca treinei tanto para ficar forte 🧾 e para suportar de novo o tênis profissional. Isso me fortificou muito mentalmente porque eu voltei a treinar e, por 🧾 isso, depois, eu voltei e fiz quartas de final no US Open. Eu estava muito, muito treinado. Só que eu 🧾 tomava injeção todos os dias por causa da dor. Eu tinha dor ainda (risos). Por isso que depois do US 🧾 Open eu tive um problema sério de inflamação na patela porque o joelho... Eu compensava de um lado... Foi uma 🧾 bola de neve. Eu tive que parar por 2-3 meses para fortificar de novo, treinar outra vez e voltar no 🧾 ano seguinte. Foi um período de 10, 11 meses, um ano, muito desafiador. Muito mesmo.

Você falou agora uma coisa que 🧾 me chamou muito a atenção porque uma das coisas que sempre digo é que você é um cara que passa 🧾 uma vibe muito legal, um cara muito leve, tranquilo. E você acaba de falar em "depois que eu voltei a 🧾 ser uma pessoa positiva." E você falou em incertezas, dificuldade para dormir e tudo isso...

Alê, a partir do momento que 🧾 eu recebi a notícia, eu fiquei desempregado. "Cara, e agora?" Por sorte, e eu tenho um agradecimento eterno pelo meus 🧾 patrocinadores, eles ficaram comigo, cara. Porque é muito difícil. Eu não estava na mídia, eu não estava em ação. Para 🧾 os patrocinadores pularem fora, é rápido. E foi o que me sustentou! O tênis não é que nem o futebol. 🧾 A gente machuca, e não recebe. A gente tem que jogar torneios - tu sabe bem - para ser remunerado!

Eu 🧾 ia perguntar essa parte porque são nove meses sem jogar, fisioterapia, trouxe um fisio da Espanha, duas operações... É muita 🧾 grana!

E duplista recebe dez vezes menos que simplista. A gente se vira muito nos 30. Hoje em dia, eu tenho 🧾 que pensar fora da caixa do tênis para melhorar a questão financeira. É uma matemática... É diferente do simplista. Isso 🧾 só me traz mais... Bagagem, amadurecimento, coisas boas para o pós-carreira de tênis. Vai saber quanto que eu vou jogar 🧾 ainda! Meus próximos dois anos são os anos mais importantes da minha carreira, que vão fazer que eu continue jogando 🧾 em alto nível ou eu repense a minha carreira porque eu não quero ficar ali entre os 60-70 do mundo 🧾 porque tu mais viaja e mais gasta dinheiro e tua saúde mental do que tu desfruta. No tênis, se tu 🧾 não ficar entre os 30, 40, 50 [do ranking] de dupla... Eu acredito que não vale a pena. Principalmente no 🧾 meu momento, com 34 anos, família, esposa. Ficar 30-35 semanas do teu ano viajando, hoje em dia é cruel. Eu 🧾 ainda faço porque minha gasolina não está na reserva, e eu amo o esporte que eu faço. E agora estou 🧾 saudável, sem dor, e vou aproveitar muito esses próximos dois anos para dar o pulo do gato e ficar onde 🧾 eu quero ficar, que é no topo. Esses são os meus objetivos para os próximos anos.

A post shared by Marcelo 🧾 Demoliner (@mdemoliner)

Vamos entrar na parte boa da conversa, então. Você volta a jogar no Challenger de Braunschweig, em julho de 🧾 2023, e já é campeão...

Foi. Isso aí foi... Não sei como! Na verdade, quem foi campeão foi o Struff [Jan-Lennard 🧾 Struff, alemão, parceiro de Demoliner no torneio], não fui eu (risos). O Struff foi excelente. Eu mandei uma mensagem para 🧾 ele, tenho uma amizade muito grande com ele, e ele falou "cara, vem que vamos jogar!" E cara, foi uma 🧾 semana impressionante, só que meu corpo não estava preparado para jogar. Eu não tinha jogado um jogo inteiro em treinamento. 🧾 Daí joguei quatro jogos seguidos num torneio, sendo campeão... Foi inacreditável! (risos) Só que o corpo não estava preparado, e 🧾 comecei a ter uma inflamação na patela do joelho porque o joelho não estava pronto. E essa inflamação na patela 🧾 eu carreguei até o US Open [em agosto]. Tentei jogar mais dois ou três torneios depois do US Open, mas 🧾 era remédio, injeção, não dava para continuar. Tive que ficar uns dois-três meses. Mas sim, a gente começou ganhando. Foi 🧾 inacreditável! (mais risos)

A gente chega a 2023, e você já está melhor. Você começa o ano 100%?

Começo o ano 100%.

Sem 🧾 infiltração, nada?

Exatamente.

Aí tem aquele jogo doído no Rio Open. Você e o Vavassori tinham feito semi em Buenos Aires, e 🧾 teve a partida do 13/11 no Rio [Demoliner e Felipe Meligeni perdem de Tomislav Brkic e Gonzalo Escobar por 1/6, 🧾 7/5 e 13/11].

O que aconteceu foi que no 4/4 do segundo set... A gente tinha ganho o primeiro set de 🧾 lavada. Aí choveu, foi para o outro dia. Aí , 4/4, eu dou um saque, e acontece a mesma coisa 🧾 que aconteceu em 2023, quando eu abri a perna. Eu abro a perna no meio do jogo. Eu chamei o 🧾 fisioterapeuta, ele enfaixou, só que eu sabia que tinha aberto o músculo. Se a gente tivesse ganhado, eu não ia 🧾 conseguir entrar na quadra no outro dia porque abriu feio o meu adutor. E mesmo assim a gente teve match 🧾 point no 4/5, com eles sacando e no-ad. Não! Minto! (Demo se corrige] Foi no 5/5, depois no match point, 🧾 que eu lesionei. Se a gente tivesse ganhado, eu não teria aberto a perna (risos). Mas o "se" não existe. 🧾 E mesmo assim, eu ali meio manco e tal, a gente perdeu mais três match points no super tie-break. A 🧾 gente ia jogar em Santiago depois do Rio, mas eu não consegui jogar. Eu tive que parar e tratar a 🧾 minha perna. Mas por que aconteceu isso? Porque eu ainda compensava muito por causa do joelho! Até hoje em dia! 🧾 Eu passei da final que fiz na Itália, no Challenger, até Wimbledon em tive uma fascite plantar muito forte no 🧾 meu pé esquerdo. Porque eu jogava peso mais na perna esquerda do que na direita - e inconscientemente, por causa 🧾 da cirurgia. Pensando agora, o que aconteceu lá na China, quando eu torci o meu pé esquerdo, fez com que 🧾 eu me colocasse todo peso na perna direita e me desse confiança mental para colocar o peso na direita e 🧾 saber que eu estou curado. Eu estou zero! Então a parte positiva de eu ter torcido o pé na China 🧾 foi isso.

E foi uma temporada ok, não? Você começa perto de 180 no ranking, sobe até 50 e pouquinho e 🧾 só cai quando perde os pontos do US Open.

Eu tive muita sorte e competência ao mesmo tempo porque quando tu 🧾 tá quase sem ranking nenhum, eu tinha nove torneios para usar o ranking protegido [em casos de lesão, a ATP 🧾 permite que tenistas usem um ranking de antes da lesão para entrarem em torneios]. Meu ranking protegido era 61. Em 🧾 menos de um ano, eu estava 50 e poucos. Toda vez que eu usava meu ranking protegido, eu ia bem. 🧾 Eu somava pontos, então tive sorte e competência para jogar muito bem quando usava o ranking protegido. Aí eu subi. 🧾 Porque hoje em dia, jogar Challenger é desafiador! Todo mundo está jogando bem tênis, e tu faz no máximo 90-120 🧾 pontos, e para bater o top 100, tem que fazer 900-1000 pontos. Tem que ganhar dez Challengers! Cara, é loucura! 🧾 É a mesma coisa de 50 pra 30. Tu precisa dobrar teus pontos pra estar lá. Tu precisa jogar os 🧾 torneios grandes, performar bem nos torneios grandes. Como a gente tem pouca oportunidade de jogar um ATP 1000 nesse ranking 🧾 [50-60 do mundo], a gente só tem oportunidade nos slams. Dos 250 para os 500 e 1000 é o mesmo 🧾 salto. Precisa de um-dois torneios para dar uma alavancada. Lá em cima, é muito mais fácil tu te manter porque 🧾 tu joga todos os torneios, e um jogo que tu ganha [em um Masters 1000] são 90 pontos! Daí tu 🧾 ganha dois, são 180. Então eu preciso furar esse bloqueio também. Já tá na hora (risos).

E como foi a história 🧾 do ouro no Pan? Você foi convocado ou pediu para ir?

Cara, eu me ofereci porque eu queria. Eu tinha a 🧾 questão de 2023, que estava muito mal resolvida. Eu estava convocado, e uma semana antes eu estava jogando o ATP 🧾 250 de Bastad, na Suécia, e no meio do jogo eu abri a perna. Eu não tive tempo de recuperar. 🧾 Fiquei muito chateado e ficou uma questão de honra porque eu queria jogar. É como uma mini-Olimpíada. Jogar pelo teu 🧾 país, pela tua pátria, pra mim, não tem preço. Desde os 13-14 anos, eu fazia diários, todo dia eu escrevia. 🧾 Eu tenho esses diários. "Eu quero jogar Olimpíadas, eu quero jogar Pan-Americano, eu quero jogar Copa Davis." Lembro até hoje. 🧾 É muito marcante. Eu fui numa Copa Davis quando jogavam o Guga, o Jaiminho [Oncins], Meligeni, André Sá... A gente 🧾 jogou contra a Austrália em Floripa, e o Lleyton Hewitt nos colocou no bolso. Só que a atmosfera daquilo era 🧾 um negócio impressionante. Eu queria estar lá dentro. Lembro que eu usava óculos para jogar, eu usava a camisa do 🧾 Guga sempre. Foi uma experiência que... ali, eu falei "Eu quero isso pra mim." Desde lá, jogar pelo país faz 🧾 muito sentido para mim, sabe? Então desta vez eu falei para o pessoal da CBT: "Nunca joguei, quero jogar." E 🧾 deu certo desta vez! Tem toda a história do que aconteceu antes (risos). Deu certo agora, com a medalha aqui, 🧾 mas passamos poucas e boas! (mais risos).

Então vamos lembrar do que aconteceu antes?

Beleza. Estou convocado para a Copa Davis contra 🧾 a Dinamarca. Estou treinando bem, show de bola, saudável, tudo bonito. Não fui escalado para as duplas. "Beleza. não vou 🧾 jogar." Daqui a pouco, os caras ganham, o Brasil faz 3 a 0 e "beleza, não vai ter mais nada." 🧾 Mas ia ter que jogar mais um jogo. Daí o Wild "não vou jogar, estou cansado." O Thiago Monteiro: "também 🧾 não vou jogar." Os caras olharam para os duplistas, que jogaram três horas: "também não vou jogar." Daqui a pouco, 🧾 todo mundo olha pra mim (risos). Cara, fazia seis anos que eu não jogava um set inteiro de simples. "Vocês 🧾 estão loucos!?" Só que era a regra. Tinha que jogar alguém. Aí falei "beleza, aceito. Vou lá, fazer um saque-e-voleio, 🧾 vou treinar e vamos lá." Daí comecei a dar un saques bons, comecei a me emocionar e cara, foi legal, 🧾 foi muito divertido. Eu fazendo minhas piruetas lá, parecia um jogo exibição (risos). E foi muito legal mentalmente para mim 🧾 porque joguei dois sets e um super tie-break. Cara, no primeiro set, eu estava morto. Morto. Morto! Só que eu 🧾 fui indo, indo e falei "cara, tô de volta!" Ali trouxe uma confiança muito grande no meu corpo. Beleza. Saí 🧾 de lá, fui direto para a China. O torneio [ATP 250 de Chengdu] começou na quarta-feira por causa da Copa 🧾 Davis. Eles fizeram uma programação diferente. Só que aí estourou um conflito na Armênia [o Azerbaijão lançou uma ofensiva militar 🧾 contra uma região povoada por armênios], e o meu parceiro [Matwe Middelkoop] não conseguiu voo e chegou só na sexta-feira. 🧾 Batemos uma bola, fomos para o aquecimento e fomos jogar. Ganhamos o primeiro set, 3/3 no segundo, no-ad, eu saco, 🧾 o cara me dá uma devolução mascada, que a bola sai do meu raio. Eu vou fazer o bate-pronto, meu 🧾 pé dobra, eu caio com todo o peso em cima do pé e escuto um "crec". Grito de dor, caio 🧾 e sinto o meu pé totalmente formigar.

Nossa!

Falei "ferrou, ligamento, acabou a temporada, fodeu." Fiquei uns dez minutos chorando. Tenho até 🧾

. Eu fico uns dez minutos no chão, em lágrimas, chorando porque "não é possível que vai acontecer comigo de 🧾 novo." Chega o fisioterapeuta, me ajudam a colocar na cadeira, e eu falo "cara, pelo amor de deus, tenta enfaixar 🧾 essa merda aí e me bota para jogar." Eles enfaixaram, fizeram uma bota no meu pé, tentei colocar meu pé 🧾 no tênis e não tinha como. Meu pé já estava uma bola. Eu tenho uma tatuagem de um leão no 🧾 pé, e bem no olho da tatuagem tinha uma bola, parecia que o leão tinha tomado um nocaute (risos). E 🧾 não entra o meu pé no tênis. Os caras chegaram com uma cadeira de rodas, e eu fui direto para 🧾 o hospital. Fiz uma ressonância, conseguiram uma enfermeira que falava um pouquinho de inglês, e fiz aquele

que coloquei 🧾 nas redes sociais, dizendo que "acho que quebrou, acho que perdi minha temporada." Mas quando fiz o

, pensei "não 🧾 vou postar." Todo mundo saber de novo que estou tendo uma outra lesão? Não quero que as pessoas sintam pena 🧾 de mim, sei lá. E não queria que eu perdesse a vaga do Pan porque tinha quatro semanas. Eu queria 🧾 esperar o resultado da ressonância para saber. A partir do momento que eu recebi a ressonância dizendo que só tinha 🧾 estirado os ligamentos, que não tinha rompido, liguei para o meu fisio e para o médico do COB, e me 🧾 disseram "pelo menos três semanas." Eu tinha quatro. Falei "vou viver, vou respirar fisioterapia e vamos tentar. Não quero perder 🧾 esse Pan de jeito nenhum." E eu dormi todos os dias com uma máquina no meu pé. Uma máquina que 🧾 o Nadal usou muito no joelho, que chama magnetoterapia. Eu dormia enfaixado com essa máquina para desinchar, desinflamar e, enfim... 🧾 E foi ali que, na terceira semana, eu consegui já tirar todo o inchaço, todo o roxo, e tinha - 🧾 e foi triste porque eu tinha combinado de fazer todo o final de ano com o o Rafa Matos. Acabou 🧾 que eu consegui melhorar legal - ainda tenho dor no pé, mas enfaixo ele e tudo - e comprei uma 🧾 tornozeleira que parecia um gesso. Eu não movia o pé de medo. Com aquela tornozeleira, não tinha como virar o 🧾 pé. Só que eu não tinha mobilidade, era difícil jogar com aquilo. Mas eu comecei a jogar daquele jeito e, 🧾 aos poucos, fui tirando. Na Suécia [ATP 250 de Estocolmo, na semana anterior ao Pan], eu treinava com aquilo e, 🧾 no jogo, eu consegui jogar sem. Eu tive a confiança de dizer que eu ia pro Pan-Americano. E aí foi.

E 🧾 aí veio a medalha...

Quando cheguei no Pan, peguei uma infecção na garganta. Antibiótico e antiinflamatório todos os dias. Cara, outra 🧾 superação assim... E, por sorte, fui jogar só na quinta-feira. A gente saiu adiantado, com bye, e na quinta eu 🧾 já estava legal. Só que na quinta, na sexta e no sábado - a programação "maravilhosa" dos caras espertos do 🧾 Pan-Americano, que parece que nunca jogaram tênis na vida - eu tinha que jogar as duplas masculinas e, em seguida, 🧾 tinha que jogar as mistas. E eu fiquei três semanas sem treinar antes de Estocolmo. Meu corpo estava totalmente dolorido. 🧾 Jogar quinta-feira dois jogos, com 3h30min ao todo. [Demoliner fez duas partidas na quinta-feira, na sexta e no sábado, sempre 🧾 disputando duplas masculinas e duplas mistas].

E a final foi aquela loucura!

A final das duplas masculinas foi completamente atípica pela situação 🧾 de jogo, a adrenalina. Ali aconteceu algo que nunca tinha acontecido na minha carreira. Aquele público hostil, lotado de gente 🧾 te xingando, atrapalhando entre um saque e outro, gritando, assoviando... Mais do que Copa Davis! E tem uma sensação que 🧾 eu vou levar pra mim pra sempre foi quando a gente entrou em quadra. Normalmente, o público bate uma palminha 🧾 de leve e ovaciona o time da casa. Quando a gente colocou o pé...

Já veio a vaia!

Cara, mas lá de 🧾 dentro foi um negócio que arrepiou de uma maneira... Eu levei para a parte positiva, de dizer "eu vou calar 🧾 todo mundo aqui, não vou perder esse jogo nem fodendo." Mentalmente, antes do jogo eu pensava "vai ser muito duro 🧾 por causa da torcida, o meu parceiro [Gustavo Heide] nunca viveu um negócio desses, vou abdicar de como eu vou 🧾 me sentir bem, mas vou fazer de tudo para que meu parceiro se sinta o melhor possível, o mais tranquilo 🧾 possível. Tenho que usar a minha experiência para ele se sentir bem acolhido dentro da quadra e não sentir tanta 🧾 pressão." Eu tinha que ser o líder ali e mostrar que iria estar com ele. Podia cair o mundo, mas 🧾 eu iria estar com ele. Quando a gente entre e é vaiado, eu agarro o ombro dele e falo "olha 🧾 isso, que massa, cara. Isso vai ser poucas gentes que a gente vai sentir na vida. A gente vai jogar 🧾 e calar esses caras." Tentando fazer ele se sentir bem, sabe?

Claro.

Começou o jogo, a gente deu um banho nos caras. 🧾 O que meu parceiro jogou na devolução, e eu ajudando ali na rede, a gente se encaixou muito bem. A 🧾 gente perdeu o saque no começo do segundo set e a partir daí parecia que os caras estavam lendo a 🧾 nossa mente. Tudo que a gente fazia parecia que os caras sabiam. Eu te contei [Demoliner relatou logo após a 🧾 final que os chilenos trapacearam - leia aqui]. Aí aconteceu a briga. Se não me engano, teve uma briga com 🧾 a equipe técnica do Brasil e o Chile. A gente sentado ali, olhando e não entendendo nada. A gente só 🧾 soube do que aconteceu depois do jogo. Só que o que fez a gente ganhar esse jogo... Antes do match 🧾 tie-break, a gente foi para o banheiro. Ali, a gente conversou coisas pontuais muito boas, positivas, para entrar de outra 🧾 forma no terceiro set. Deu certo, e o Gustavo jogou muito!

Pequeno comentário na transmissão de ontem sobre histórias que comovem 🧾 no esporte e sobretudo a minha emoção ao ver o @mdemoliner89 estufar o peito pra comemorar um título pan-americano e 🧾 coroar uma belíssima carreira com a medalha de ouro ?#TimeBrasil #Santiago2023 pic.twitter.com/zPk119dmXj

O tie-break dele foi uma coisa obscena!

Foi impressionante! Impressionante! 🧾 Eu senti a pressão ali no 3/1, quando fiz a dupla falta. Ali eu senti. Só que eu queria que 🧾 o meu parceiro se sentisse bem porque era ali que a gente ia ganhar o jogo. Então deu certo. Cara, 🧾 de tudo que aconteceu, a medalha trouxe uma importância e um gosto muito maior porque a gente nunca tinha vivenciado 🧾 isso. E foi um negócio muito legal. Tenho até

depois do hino eu olhando para a bandeira, chorando. Foi 🧾 sensacional! [Demoliner e Heide conquistaram o ouro por 6/1, 2/6 e 10/7 sobre os chilenos Alejandro Tabilo e Marcelo Tomás 🧾 Barrios Vera].

Eu lembro!

Só que toda final, tudo que aconteceu, a adrenalina, o pico lá em cima... Eu não queria desaquecer 🧾 para o próximo jogo [a final de duplas mistas], só que adrenalina começou a baixar, e minhas pernas endureceram. Pedi 🧾 para a fisioterapeuta do Brasil me passar um creme quente na lombar e nas pernas para dar uma aquecida, mas 🧾 eu relaxei. Fiquei pesado. Eu parecia um elefante! Nas viradas de lado, eu não sentava porque não estava me sentindo 🧾 bem e tentava me aquecer. E nossos adversários jogando muito, fresquinhos! [Demoliner e Luisa Stefani perderam para a dupla colombiana 🧾 formada por Nicolas Barrientos e Yuliana Lizarazo].

O Barrientos acertou tudo o jogo inteiro...

O Barrientos destruiu a bola! E eu não 🧾 consegui performar como eu gostaria. E nas mistas, o homem faz muita diferença. Eu não estava devolvendo bem. Nas mistas, 🧾 parecia que eu não tinha a mesma reação e não consegui devolver bem. Não consegui ajudar tanto a Lu. Mas 🧾 o Barrientos estava num nível alto, e a menina [Lizarazo] manteve um nível extremamente bom o jogo inteiro. Eles têm 🧾 o mérito total dessa medalha de ouro. Conquistar a prata foi maravilhoso. Jogar ao lado da Luisa, que eu considero 🧾 muito, com a energia que a gente tem dentro e fora da quadra, é um prazer jogar com ela. Mas 🧾 uma pena que a gente não conseguiu o outro. A gente era favorito. A gente treinou com a Colômbia no 🧾 primeiro dia, e a gente matou eles! Ganhamos set tranquilo, ganhamos um super tie-break... Só que faz parte, mas foi 🧾 muito marcante a medalha de ouro nas duplas masculinas por tudo que aconteceu, e o gosto de os caras não 🧾 terem fair play, a torcida enchendo o saco. Todos esses fatores acumulados fazem com que seja especial. Vou ter história 🧾 para contar até o resto da vida!

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo 🧾 jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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