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A ciência que envolve as dores é complexa. Sua avaliação subjetiva, aliada a preconceitos, causa desigualdades de tratamento entre as 7️⃣ pessoas

Quanto dói?

Parece uma das questões mais simples da medicina e da saúde. Mas, na verdade, esta pode ser uma pergunta 7️⃣ muito difícil de se responder com objetividade.

Imagine um médico que tem dois pacientes fazendo caretas e usando palavras parecidas para 7️⃣ descrever as suas dores. O médico pode ter certeza de que eles estão sentindo o mesmo nível de dor?

E se 7️⃣ um deles tiver o hábito de subestimar seu sofrimento? E se um deles sentir dor há muito tempo e estiver 7️⃣ acostumado a ela? E se o médico tiver certos preconceitos que fazem com que ele acredite mais em globo ao vivo 2024 um 7️⃣ paciente do que no outro?

A dor é um inimigo difícil de combater e de medir – e, por isso, difícil 7️⃣ de se tratar.

Fim do Matérias recomendadas

A dor pode ser um importante sinal de angústia e deixar de investigá-la pode fazer 7️⃣ perder a oportunidade de salvar uma vida. Ou pode ser algo muito menor.

Mesmo sendo uma experiência universal, a dor continua 7️⃣ sendo um grande mistério – e, especialmente, a tarefa de determinar quanta dor alguém está sentindo.

Podcast traz áudios com reportagens 7️⃣ selecionadas.

Episódios

Fim do Podcast

"Entendemos muito mal a dor", afirma a cientista da computação Emma Pierson, da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, 7️⃣ pesquisadora das dores.

"Particularmente, o fato de que os médicos humanos ficam frequentemente atordoados para descobrir por que um paciente sente 7️⃣ dor indica que o nosso conhecimento médico atual da dor é muito fraco", afirma ela.

O padrão-ouro atual da análise da 7️⃣ dor depende do próprio relato dos pacientes sobre como eles se sentem. Em diversos locais, é utilizada uma escala numérica 7️⃣ (na qual 0 é ausência de dor e 10 é a dor mais forte) ou um sistema de rostos sorridentes.

"A 7️⃣ primeira etapa do tratamento adequado da dor é medi-la com precisão e este é o desafio", afirma Carl Saab, líder 7️⃣ da equipe de pesquisa da dor da Clínica Cleveland, em globo ao vivo 2024 Ohio, nos Estados Unidos.

"Atualmente o padrão de atendimento é 7️⃣ baseado nos 'rostos sorridentes' que permeiam as salas de pronto atendimento." Para Saab, este sistema pode ser confuso para os 7️⃣ pacientes e especialmente problemático para tratar crianças e pacientes não comunicativos.

A segunda questão é acreditar na avaliação do paciente. Um 7️⃣ estudo concluiu que existe uma noção generalizada de que as pessoas tendem a exagerar o nível de dor que estão 7️⃣ sentindo, embora poucas evidências indiquem que esse exagero seja algo comum.

Sem uma forma objetiva de medir a dor, surge um 7️⃣ espaço para que o preconceito influencie as decisões dos médicos.

"A dor tem um impacto particularmente grande sobre as populações carentes 7️⃣ e a dor deles, muitas vezes, costuma ser ignorada", afirma Pierson.

Infelizmente, falsas crenças sobre as dores são comuns entre os 7️⃣ médicos.

Em 2024, um estudo concluiu que 50% dos estudantes de medicina e médicos residentes brancos nos Estados Unidos mantinham ideias 7️⃣ falsas e muito perigosas sobre as pessoas negras e suas experiências de dor.

Outro estudo concluiu que quase a metade dos 7️⃣ estudantes de medicina ouviu comentários negativos sobre pacientes negros dos seus colegas mais velhos e o nível de viés racial 7️⃣ desses alunos aumentou significativamente nos seus quatro primeiros anos de aprendizado médico.

Esse preconceito data das tentativas históricas de justificar a 7️⃣ escravidão, como falsas alegações de que as pessoas negras teriam pele mais espessa e diferentes terminações nervosas.

Agora, pacientes negros nos 7️⃣ Estados Unidos têm 40% menos chance de terem suas dores tratadas do que os pacientes brancos. E os pacientes hispânicos 7️⃣ têm 25% menos chance do que os brancos de terem suas dores tratadas.

A discriminação racial não é a única forma 7️⃣ de preconceito que influencia o tratamento das dores. Existe também o viés relativo às "mulheres histéricas", que ainda é muito 7️⃣ conhecido na medicina, particularmente em globo ao vivo 2024 relação à dor.

Uma análise de 77 estudos separados revelou que termos como "sensível" e 7️⃣ "reclamona" são mais frequentemente aplicados aos relatos de dor pelas mulheres.

Um estudo realizado com 981 pessoas concluiu que as mulheres 7️⃣ que chegam com dores ao pronto atendimento têm menos chance de receber algum remédio para a dor e precisam esperar 7️⃣ 33% mais tempo para receber tratamento do que os homens.

Além disso, quando homens e mulheres relatavam níveis de dor similares, 7️⃣ os homens recebiam medicamentos mais fortes para tratamento.

As expectativas sociais sobre o "comportamento normal" de homens e mulheres são a 7️⃣ causa desses padrões, segundo Anke Samulowitz, que pesquisa viés de gênero na Universidade de Gotemburgo, na Suécia.

Para ela, esses preconceitos 7️⃣ geram "diferenças clinicamente injustificadas na forma em globo ao vivo 2024 que homens e mulheres são tratados pelos médicos".

Samulowitz ressalta que existem, às 7️⃣ vezes, motivos reais para que homens e mulheres recebam tratamentos diferentes para uma questão de saúde específica.

"Diferenças associadas a hormônios 7️⃣ e genes, às vezes, podem causar variações, por exemplo, na medicação para a dor", segundo ela. "Mas nem todas as 7️⃣ distinções observadas no tratamento de homens e mulheres com dores podem ser explicadas por questões biológicas."

As formas existentes para estimar 7️⃣ o nível de dor dos pacientes abrem espaço para interpretações preconceituosas

Será que as novas tecnologias podem ajudar a fornecer uma 7️⃣ forma de superar o preconceito e o viés em globo ao vivo 2024 torno da dor na medicina?

Diversas inovações estão sendo desenvolvidas para 7️⃣ preencher essa lacuna, oferecendo uma "leitura" objetiva da gravidade da dor de uma pessoa. Estas tecnologias dependem de se encontrar 7️⃣ "biomarcadores" da dor – variáveis biológicas mensuráveis correlacionadas a essa experiência.

"Sem biomarcadores, não conseguiremos diagnosticar e tratar adequadamente a dor", 7️⃣ explica Saab. "Não conseguiremos prever a probabilidade de alguém com lesões agudas nas costas adquirir dores crônicas resistentes ao tratamento 7️⃣ e não poderemos monitorar objetivamente a reação a terapias inovadoras em globo ao vivo 2024 testes clínicos."

Existem diversos possíveis biomarcadores. Pesquisadores de Indiana, 7️⃣ nos Estados Unidos, desenvolveram um exame de sangue para identificar quando é ativado um conjunto muito específico de genes envolvidos 7️⃣ na reação corporal à dor. Os níveis desses biomarcadores poderão indicar não só que alguém tem dor, mas aglobo ao vivo 20247️⃣ intensidade.

A atividade cerebral poderia ser outro biomarcador útil.

Quando estava na Universidade Brown, nos Estados Unidos, Saab idealizou comglobo ao vivo 2024equipe 7️⃣ uma técnica que mede o fluxo e refluxo de um tipo de atividade cerebral conhecido como ondas teta. A equipe 7️⃣ concluiu que essas ondas aumentam durante a dor.

Saab também descobriu que a administração de analgésicos reduz a atividade teta para 7️⃣ os níveis normais.

Desde então, o trabalho da equipe vem sendo reproduzido independentemente por outros laboratórios. Mas Saab acredita que a 7️⃣ avaliação da dor com base nas ondas teta será mais um método de medição da dor e não uma substituição 7️⃣ dos métodos atuais.

"Nunca conseguiremos saber ao certo como alguém se sente, seja em globo ao vivo 2024 relação à dor ou outro estado 7️⃣ mental", afirma Saab.

"O relato verbal do paciente deve sempre permanecer como a 'verdade básica' para a dor. Imagino que isso 7️⃣ seja utilizado como diagnóstico auxiliar, especialmente em globo ao vivo 2024 casos em globo ao vivo 2024 que os relatos verbais não são confiáveis: crianças, adultos 7️⃣ com estado mental alterado, pacientes não comunicativos."

Saab faz distinção entre a dor aguda, que funciona como alarme ("e, neste caso, 7️⃣ não devemos ignorá-la") e a dor crônica.

Os biomarcadores podem oferecer uma forma objetiva de avaliar a dor que sente uma 7️⃣ pessoa, com menos influência do viés humano

Às vezes, uma análise mais detalhada da lesão ou condição que causa a dor 7️⃣ pode ajudar a tornar os tratamentos melhores e mais razoáveis.

A classificação de Kellgren e Lawrence, proposta pela primeira vez em 7️⃣ globo ao vivo 2024 1957, examina a severidade das mudanças físicas dos joelhos causadas pela osteoartrite.

Mas uma das críticas a este sistema é 7️⃣ o fato de que pacientes com baixa renda ou grupos minoritários, muitas vezes, sentem dores mais intensas devido a essa 7️⃣ condição. Isso traz um duplo golpe para esses indivíduos.

"Como essas medidas de intensidade têm forte influência para [decidir] quem terá 7️⃣ o joelho operado, os grupos carentes podem ser subencaminhados para cirurgia", afirma Pierson.

Pierson e seus colegas da Universidade Stanford desenvolveram 7️⃣ um novo algoritmo que pode analisar essa questão.

"Usamos uma técnica de aprendizado profundo para procurar, no raio X do joelho, 7️⃣ elementos adicionais relevantes para a dor que o médico pode não estar vendo e que podem explicar as dores mais 7️⃣ fortes em globo ao vivo 2024 pacientes carentes, treinando um algoritmo de aprendizado profundo para prever a dor a partir dos raios X 7️⃣ do joelho", explica a pesquisadora.

"Então, você pode imaginar, basicamente, o uso desse algoritmo para ajudar a definir melhor as cirurgias, 7️⃣ sinalizando para o médico: 'você disse que este paciente não tem lesões físicas do joelho, mas aqui está uma indicação 7️⃣ no raio X de que pode haver – não quer dar outra olhada?'"

O algoritmo ainda irá levar um tempo para 7️⃣ chegar ao mundo real, segundo Pierson. Existem desafios a serem superados que são comuns em globo ao vivo 2024 todo o campo da 7️⃣ inteligência artificial na medicina, como o desenvolvimento e treinamento de humanos e algoritmos para que trabalhem bem em globo ao vivo 2024 conjunto.

Mas 7️⃣ ela está animada por ver que o seu algoritmo encontra sinais no joelho que preveem a dor e podem ajudar 7️⃣ a reduzir o problema. Para Pierson, este trabalho destaca o potencial da IA para diminuir o preconceito na assistência médica.

"Sou 7️⃣ frequentemente levada para questões em globo ao vivo 2024 que o conhecimento médico é claramente inadequado e prejudica especialmente as populações historicamente ignoradas 7️⃣ pela medicina, como as minorias raciais e as mulheres", comenta ela.

Mas Pierson observa que algoritmos como o seu não irão 7️⃣ resolver todos os problemas da osteoartrite do joelho.

"Não é que o nosso algoritmo faça algum trabalho mágico fantástico de prever 7️⃣ a dor", explica ela. "Mas estamos comparando com o conhecimento básico da dor, que é muito ruim, e uma avaliação 7️⃣ de intensidade que foi desenvolvida décadas atrás em globo ao vivo 2024 populações britânicas predominantemente brancas – e não é tão difícil melhorar 7️⃣ com base nesses pontos de partida."

Anke Samulowitz destaca que utilizar a tecnologia para reduzir o preconceito também pode trazer suas 7️⃣ próprias dificuldades. Existe, por exemplo, a questão do viés na aplicação da tecnologia.

"Cerca de um quinto da população em globo ao vivo 2024 7️⃣ geral é afetada por dores moderadas a severas", explica ela. "A maior parte dessas pessoas procura tratamento médico na assistência 7️⃣ primária. Será que todas elas terão medição da dor por imagem cerebral ou haverá parcialidade na seleção?"

"Pesquisas demonstram que homens 7️⃣ recebem mais prescrições de exames somáticos do que as mulheres, enquanto mais mulheres são encaminhadas a psicólogos. Existe um risco 7️⃣ de viés de gênero para definir quem terá a medição objetiva da dor."

Apesar dos desafios à frente, Saab acredita que 7️⃣ existe sede de mudanças no campo da dor. "Os médicos estão dizendo, 'veja, não podemos basear nosso fluxo de trabalho 7️⃣ clínico nisso, não é assim que devemos praticar a medicina'."

"Quando você tem alta temperatura, você usa um termômetro. Quando tem 7️⃣ alta pressão sanguínea, você examina as concentrações no sangue. Neste caso, as pessoas chegam com dor e mostramos a elas 7️⃣ rostos sorridentes."

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site globo ao vivo 2024 Future.

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